domingo, 30 de outubro de 2016

[Mini conto] A porta ao lado.


A porta ao lado.



(Nota: Feito pelo celular)




As luzes estavam apagadas. O silêncio incomum era perturbador e algumas poucas velas iluminavam aquilo que não deveria ser visto.
O ritual já estava em seus últimos detalhes, embora o intuito fosse misterioso. Cuidadosa, ela se esgueirou pelos cantos escuros como uma sombra, sussurrando frases profanas e coletando vidas entre um corte e outro. Mas faltava o último sacrifício. Seguiu rodopiando por todo o centro do seu espetáculo macabro, cantarolando louvores a Lúcifer, seu senhor. Até que com seus pés sujos e descalços, caminhou três passos a mais, parando frente a um pequeno altar. Seus olhos pediam por sangue e seu sorriso desenhava a total falta de empatia e remorso. Abriu vagarosamente a boca e deslizou a língua por cada centímetro dos seus lábios.  Respirou fundo e saboreou o cheiro da dor e o prazer sádico, quase erótico, por trás do ato. 




O bebê estava posicionado sobre o púlpito. Preso pelos pés e pelas mãos por algemas tão pequenas, que sob a perspectiva de um olhar deturpado, poderiam parecer delicadas, embora o propósito seja claramente nefasto.
Sujo e manchado de sangue, não seria o primeiro, tão pouco o último sacrifício realizado por ali. Era impossível dizer quais restos seriam de origem humana ou animal, mas no fim, não importava. Seja para ela, ou para o bebê, que dormia imaculado. Suas bochechas eram rosadas, seus olhos eram grande bolotas com Iris cristalinas. Seus lábios eram pequenos e seu corpo rechonchudo, com pez que apertavam os dedinhos. Sua respiração era calma, dormia como um anjo.


Acorde, meu anjinho caído. Minha alma corrompida. Meu pequeno servo de satã.


Passou o dedo pelo corpinho nu do Bebê, deslizando com a unha desde a barriga, até os lábios, o que fez o pequeno acordar.
Ele espremeu os olhinhos e abriu um sorriso, revelando pequenos dentinhos ainda em fase de crescimento, mesmo diante de um ser repulsivo, que exalava o odor da morte.
Sem evitar, sacou o punhal de ritual e começou a deslizar pela pele macia do Bebê. A ponta corria de forma suave, pressionada sutilmente contra o corpo, podendo a qualquer momento perfurar de forma profunda a carne delicada. Estava a por um fio. Após isso, aproximou seu rosto, começando a cheirar o garoto por todo o seu corpo, passando a língua em seguida por toda a barriga, enquanto mantinha seu corpo curvado quase como uma corcunda.


Tão fresco, tão radiante, tão inocente… A cereja do bolo. Cortar você é quase como estragar um bolo. Mas, como sempre, estou faminta!

Ofereço a ti o sangue, a dor. Ofereço ao senhor este sacrifício. Um ato nefasto, que corrói minha alma podre, que rebaixa-me a criatura mesquinha e hedionda, vulgar e cruel, suja e desprezível, que escarra na moral e flerta com a morte. Aceite esse ato, como prova da minha fidelidade perante a ti e meu compromisso em servi -lo como arauto de sua palavra!

Brindemos hoje a vitória das trevas. Onde a escuridão engole a inocência e bebe do seu sangue. Um brinde a Satã!



O bebê começou a chorar. De algum modo parecia pressentir o destino. Seu corpo se recolheu, mas não chorou por muito tempo.


Deus está chorando, mas ele não possui poder aqui!


Com um simples e rápido movimento, degolou aquele pequeno pescoço, abrindo um grande sorriso na pele agora transbordando sangue. Rapidamente, soltou os pequenos membros das algemas, segurou por um dos pés e o ergueu, virando de ponta-cabeça, deixando o sangue escorrer e cair pelo altar. E enquanto a criança engasgava com o próprio sangue, ela cantava regozijando do feito. Por fim, largou o corpo sem vida ainda sobre o altar. Passou o dedo pelo sangue sobre o mármore misturado ao sangue seco e levou até a boca, chupando o dedo bem devagar.


Minutos depois, ao fim do ritual, tomou o seu banho. Certificou-se de que o porão estava devidamente trancado e oculto. Penteou seus cabelos negros e passou apenas um pouco de maquiagem. Escolheu um vestido negro e justo que realçava suas curvas, uma calça legging, e uma simples sapatilha. Pegou seu celular, colocou “animals” do Maroon 5 para tocar e passou pela porta, onde Anna já a aguardava.


Finalmente, menina. Tentei falar contigo a tarde toda. Pensei que ia furar hoje. Não sei porque você me dá esses vácuos. Mas vamos logo que já estamos atrasadas.

Esqueça isso, estava fazendo minhas coisas. Estava toda enrolada e meu celular descarregou. Mas me diga, futura titia, quando nasce o bebê da sua irmã?


Um comentário:

Obrigado por ler.