A porta ao lado.
(Nota: Feito pelo celular)
As luzes estavam apagadas. O silêncio incomum era perturbador e algumas poucas velas iluminavam aquilo que não deveria ser visto.
O ritual já estava em seus últimos detalhes, embora o intuito fosse misterioso. Cuidadosa, ela se esgueirou pelos cantos escuros como uma sombra, sussurrando frases profanas e coletando vidas entre um corte e outro. Mas faltava o último sacrifício. Seguiu rodopiando por todo o centro do seu espetáculo macabro, cantarolando louvores a Lúcifer, seu senhor. Até que com seus pés sujos e descalços, caminhou três passos a mais, parando frente a um pequeno altar. Seus olhos pediam por sangue e seu sorriso desenhava a total falta de empatia e remorso. Abriu vagarosamente a boca e deslizou a língua por cada centímetro dos seus lábios. Respirou fundo e saboreou o cheiro da dor e o prazer sádico, quase erótico, por trás do ato.
O bebê estava posicionado sobre o púlpito. Preso pelos pés e pelas mãos por algemas tão pequenas, que sob a perspectiva de um olhar deturpado, poderiam parecer delicadas, embora o propósito seja claramente nefasto.
Sujo e manchado de sangue, não seria o primeiro, tão pouco o último sacrifício realizado por ali. Era impossível dizer quais restos seriam de origem humana ou animal, mas no fim, não importava. Seja para ela, ou para o bebê, que dormia imaculado. Suas bochechas eram rosadas, seus olhos eram grande bolotas com Iris cristalinas. Seus lábios eram pequenos e seu corpo rechonchudo, com pez que apertavam os dedinhos. Sua respiração era calma, dormia como um anjo.
— Acorde, meu anjinho caído. Minha alma corrompida. Meu pequeno servo de satã.
Passou o dedo pelo corpinho nu do Bebê, deslizando com a unha desde a barriga, até os lábios, o que fez o pequeno acordar.
Ele espremeu os olhinhos e abriu um sorriso, revelando pequenos dentinhos ainda em fase de crescimento, mesmo diante de um ser repulsivo, que exalava o odor da morte.
Sem evitar, sacou o punhal de ritual e começou a deslizar pela pele macia do Bebê. A ponta corria de forma suave, pressionada sutilmente contra o corpo, podendo a qualquer momento perfurar de forma profunda a carne delicada. Estava a por um fio. Após isso, aproximou seu rosto, começando a cheirar o garoto por todo o seu corpo, passando a língua em seguida por toda a barriga, enquanto mantinha seu corpo curvado quase como uma corcunda.
—Tão fresco, tão radiante, tão inocente… A cereja do bolo. Cortar você é quase como estragar um bolo. Mas, como sempre, estou faminta!
Ofereço a ti o sangue, a dor. Ofereço ao senhor este sacrifício. Um ato nefasto, que corrói minha alma podre, que rebaixa-me a criatura mesquinha e hedionda, vulgar e cruel, suja e desprezível, que escarra na moral e flerta com a morte. Aceite esse ato, como prova da minha fidelidade perante a ti e meu compromisso em servi -lo como arauto de sua palavra!
Brindemos hoje a vitória das trevas. Onde a escuridão engole a inocência e bebe do seu sangue. Um brinde a Satã! —
O bebê começou a chorar. De algum modo parecia pressentir o destino. Seu corpo se recolheu, mas não chorou por muito tempo.
— Deus está chorando, mas ele não possui poder aqui!
Com um simples e rápido movimento, degolou aquele pequeno pescoço, abrindo um grande sorriso na pele agora transbordando sangue. Rapidamente, soltou os pequenos membros das algemas, segurou por um dos pés e o ergueu, virando de ponta-cabeça, deixando o sangue escorrer e cair pelo altar. E enquanto a criança engasgava com o próprio sangue, ela cantava regozijando do feito. Por fim, largou o corpo sem vida ainda sobre o altar. Passou o dedo pelo sangue sobre o mármore misturado ao sangue seco e levou até a boca, chupando o dedo bem devagar.
Minutos depois, ao fim do ritual, tomou o seu banho. Certificou-se de que o porão estava devidamente trancado e oculto. Penteou seus cabelos negros e passou apenas um pouco de maquiagem. Escolheu um vestido negro e justo que realçava suas curvas, uma calça legging, e uma simples sapatilha. Pegou seu celular, colocou “animals” do Maroon 5 para tocar e passou pela porta, onde Anna já a aguardava.
— Finalmente, menina. Tentei falar contigo a tarde toda. Pensei que ia furar hoje. Não sei porque você me dá esses vácuos. Mas vamos logo que já estamos atrasadas.
— Esqueça isso, estava fazendo minhas coisas. Estava toda enrolada e meu celular descarregou. Mas me diga, futura titia, quando nasce o bebê da sua irmã?
Como sempre, muito bom.
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