sábado, 24 de janeiro de 2015

[Contos]                 Sonata simples.

Sonata simples


Intenso, ofegante, mergulhado num êxtase de sensações inexplicáveis que faziam minha cabeça girar e meu sangue ferver. Pela primeira vez, após o fatídico acidente, meu eu fora dominado de forma avassaladora por um estado lirico caótico, e ao mesmo tempo, belo. A lógica me parecia tão mesquinha, raciocinar soava tão tolo.

Pois foi com os pés descalços, tocando a lama fresca da noite chuvosa, que parti em direção a ela. Poderia citar mil e uma analogias, porém, nada poderia defender com fiel justiça a forma como me sinto quando olhando em seus olhos. O jeito como faz meu coração pulsar, meu corpo estremecer e meus dentes rangerem. Minha existência se resume a simples contemplação da beleza inalcançável. Porém, não hoje.

Silencioso, veloz, me esgueirando pelas sombras, coloquei-me frente a sua porta. Tenho a total ciencia de que não estava devidamente apresentável. Meu cabelo desgrenhado, meu corpo molhado coberto por alguns trapos rasgados, meus pés mergulhados na lama. Em minha face, o peso dos anos de miséria. Pensei em bater, mas temi por sua reação. Sofri as dores de uma rejeição antecipada, e por um segundo, pensei em desistir. Mas não poderia. Não hoje. O palco estava armado. O céu, a estrela e a lua. Sim a lua. Imponente, inexorável em sua posição de rainha da noite. Tão bela, tão inalcançável, assim como você. Minhas duas paixões em uma unica noite, um único momento.