sábado, 15 de novembro de 2014

[Contos]                  Adeus e Obrigada.

Adeus e Obrigada.


Finalmente o fim estava próximo. Uma cozinha vazia, paredes riscadas com pedidos de socorro de uma alma abraçada por espinhos. Uma música ecoava baixinho, sendo a única que compreendia e partilhava de um sentimento tão profundo como o da angústia. Os lábios rosados e pequenos, do tipo moldado para ser beijado, se moviam delicadamente cantarolando quase aos sussurros cada verso, com lágrimas em seus olhos castanhos. — "Oh death, come near me... be the one, for me... be the one, the one, who staays..." —

Chovia fino lá fora, mas não o suficiente para lavar a alma e carregar a sua dor para longe. Uma vez que estava pronta, se entregou ao seu destino e chorou tudo o que tinha, sentiu tudo o que podia, jogou-se no colo da solidão como se fosse a única que pudesse envolvê-la num último brilho de compreensão, e a ela, ofereceu sua vida. — "My rivers are frozen, aand mischosen, and the shadows, around me, sickens my hearth. "

Não havia motivos fortes o suficiente para impedir que fosse feito. O peso em suas costas, a dor em seu coração e o vazio em sua alma culminaram naquilo que considerou como a única coisa boa que ganhara na vida. Porém, apertou-lhe o coração imaginar que finalmente chegaria a hora da despedida. A ideia de abandoná-la em um mundo cruel e mesquinho a aterrorizava. Porém, não tinha mais forças para lutar. Queria ser forte, imaginou-se dando a volta por cima, idealizou que poderia se reerguer, mas aí veio a dor. E entre um corte e outro, lembrou-se de ser uma inútil. Incapaz de fazer qualquer coisa que pudesse se orgulhar. Sem espaço no mundo, dentro de quatro paredes que isolavam sua insignificância.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

[Contos]      Travessia - Conjecturas com o barqueiro


A travessia
Conjecturas com o barqueiro


Meia-noite. Ou algo próximo, eu diria. A lua cheia brilhava em um céu sem estrelas. Com uma tonalidade vermelho sangue, parecia me encarar friamente segundo após segundo, num compasso demarcado pelas batidas do meu coração. Silenciosa, fez do seu mistério, a minha agonia. Meu corpo tremia. Meus olhos se estreitavam e minha respiração ficava cada vez mais ofegante. O vento cortava a minha pele lentamente ao mesmo tempo que arrepiava os pelos do meu corpo esguio. De fato, estava em uma situação além do que tange a sentimentos meramente humanos. Não era apenas medo, tão pouco simples impotência. Era algo maior, mais complexo e nefasto. Ao meu redor, o campo aberto de grama verde escuro. A minha frente, a beira de um rio que parecia desaparecer no horizonte em um finito inalcançável. Perguntei-me por diversas vezes, o que existia do outro lado da margem. Mas tamanha conjectura se mostrou nebulosa demais para minha mente limitada. Então, simplesmente defini como “O fim de tudo”. Atrás de mim, uma densa floresta de arvores milenares com galhos imponentes e retorcidos. Estranhamente, não lembrava de ter ultrapassado tal local, porém, sua visão era de longe uma das coisas mais assustadoras ao qual me permiti observar em toda a minha vida. Sem movimento, sem cor, um odor fétido. Mas se havia algo ali, era vida. Não uma vida no sentido metafórico ou pluralista, mas sim, singular. A floresta parecia possuir consciencia, onde junto com a lua, criou um espetáculo cruel onde eu sou o centro da loucura.